27.3.08

encore et encore, tu...


"(...)
Au petit jour, dans la cour close,
Nous boirons la part de vin rose
Oeuvrée de nuit par notre amour;
Et, dans ce cas, tu peux m'en croire,
Nous aurons pleine tonne à boire
Lorsque viendra le petit jour."
Gaston Couté

18.3.08

passou quase um ano.

um ano...

FUCKERYfuckeryfuckeryFuckeryfuc keryfuckery.F u ck er yFUCKery

27.6.07

peça vermelha.

DER BILBAO-SONG
Bertolt Brecht, 1929


Bills Ballhaus in Bilbao
war das schönste auf dem ganzen Kontinent.
Dort gab's für einen Dollar Krach und Wonne,
und was die Welt ihr Eigen nennt.
Aber wenn Sie da hereingekommen wären,
ich weiß nicht, ob Ihnen so was grad gefällt.
Ach!
Brandylachen waren, wo man saß,
auf dem Tanzboden wuchs das Gras
und der rote Mond schien durch das Dach,
'ne Musik gab's da,
da wurde was geboten für sein Geld!
Joe, mach die Musik von damals nach!

Alter Bilbaomond!
Wo noch die Liebe lohnt...
's ist toll mit'm Text!
Lang, lang ist's her!
Ich weiß ja nicht, ob Ihnen so was grad gefällt, doch:
es war das Schönste auf der Welt.

Bills Ballhaus in Bilbao
an 'nem Tag gen Ende Mai im Jahre Acht,
da kamen vier aus Frisko mit 'nem Geldsack,
die haben damals mit uns was gemacht.
Aber wenn Sie da dabei gewesen wären,
Ich weiß nicht, ob Ihnen so was grad gefällt.
Ach!
Brandylachen waren, wo man saß,
auf dem Tanzboden wuchs das Gras
und der rote Mond schien durch das Dach,
und vier Herren konnten Sie mit ihren Brownings schießen hör'n.
Sind Sie 'n Held?
Na, dann machen Sie's mal nach! Na?

Alter Bilbaomond!
Wo noch die Liebe lohnt...
Ich kann den Text nicht mehr,
's ist schon lange her!
Ich weiß ja nicht, ob Ihnen so was grad gefällt, doch:
es war das Schönste
auf der Welt.

Bills Ballhaus in Bilbao...
heute ist es renoviert so auf dezent,
mit Palme und mit Eiscrem ganz gewöhnlich..
wie ein anderes Etablissement.
Aber wenn Sie jetzt hereingesegelt kämen,
's ist ja möglich, dass es Ihnen so gefällt.
Spaß!
Auf dem Tanzboden wächst kein Gras,
und der Brandy ist auch nicht mehr das,
und der rote Mond ist abbestellt.
'ne Musik machen sie,
da kann man sich nur schämen für sein Geld!
Geh Joe, mach die Musik von damals nach.

Alter Bilbaomond,
das hab' ich oft betont,
ich hab' sie nie geschont...
Na, das ist ja der Text...
Verzeihung, 's ist zu langer her...
Alter Bilbaomond...
Ich weiß ja nicht, ob Ihnen so was grad gefällt, doch:
es war das Schönste
auf der Welt.
Es ist zu lange her...

5.4.07

o pequeno amante - Parte primeira.

Estou de pé num salão grande. Um salão com um fresco grande no fundo, cheio, até ao fundo. Sou o único que está de pé. Há um silêncio que entoa nos vidros. Range e solfeja na pele, depois nos olhos, depois na boca. Senhoras velhas, senhoras novas, homens velhos, novos, de meia-idade, crianças com choro nos olhos.
Há vida a declamar nesse silêncio, há os meus olhos que reclamam esse silêncio.
Varro o espaço com os olhos e, também eu faço parte desse silêncio.

Como uma vida pode ser tão privativa, tão restritamente cercada em mim, e no outro. Encontrei-me ali sem conhecer uma única pessoa, só uma conhecia por ver passar na rua. No entanto, a vida desprendia-se do fundo, e era a vida de todos, a mesma entre todos.

Curiosa a sensação. Uma imensidão de vidas, no entanto, só conhecia uma pessoa, por a ter visto passar na rua. Naquele sítio, de pé, não conheço a crença de me apaixonar uma só vez, e acredito que durante anos, apenas conhecemos, uma só pessoa, por a ver passar na rua.

(...)

15.3.07

fotografia.

Gosto de recordar quando fui sujeito noutro corpo, e que das flores só tenho a cor das mãos.Revezei-me em tecidos ornados, dos cabelos franzinos e olhos miúdos. Espeto hoje da pele os olhos num ímpeto grosso numa cara fixa.

Toco cinco dedos pesados sobre a mesa, num gesto oxidante.

Da boca, rasgo uma língua de sons furtivos, densos de instrumentar.Preparo um segundo nascimento, por dentro do meu líquido.
Ah! E que bom é ouvir-te!

4.2.07

a mulher pirrónica.


No campo existe uma senhora que vende flores. Podia vendê-las na cidade, mas vive no campo, com as flores. E vende-as às pessoas da cidade e às do campo, e ainda às que usam o campo, para na cidade dizerem que são requintadas, porque usam o campo.
A senhora é de meia-idade, tal como as flores que tem na estufa. Numas conhece-se o nascimento, são pequenas e de folhagem macia (Ninguém duvida que uma criança, é de facto, uma criança). Mas numa flor de maior porte, de folhagem tenaz, não se conhece a idade - É de meia-idade.

A senhora sempre viveu com a mãe, doente. Nunca procurou um homem para viver com ela. Procurava vários para simplesmente, viver. Distante no que lhe moldava a vida a florista era vista por todos como uma personagem de um livro fácil. Sem nunca ter sido fácil, mas a distância só lhe deu isso: A acessibilidade de uma charada de trazer por casa.

Organizada e com sangue de chefia. Os chefes existem porque não falam de si próprios. Nunca se apresentaram a ninguém - São chefes. Mas notava-se-lhe no rosto o ardor do pano que mantinha teso na cara.

Fui lá para comprar umas plantas vulgares que sobrevivessem aos meus dias de imbecilidade e à falta de sol. Vasculhei a estufa como um fraco expedito e a florista, ausente, parecia chorar. Uma chefe a chorar. Mas não haviam lágrimas. Estava a empolar. Empolava um silêncio capaz de queimar as plantas todas da estufa e fora da estufa.

Uns instantes a seguir retorquiu umas valentes gargalhadas e falámos sobre flores, árvores de lichias e bonsais.

Ofereceu-me um jarro selvagem e a estufa ficou vazia.

31.1.07

vertigem.


Parte I
(ensaio - antes da morte)

As mãos e os olhos na água,
as mãos que mergulham nos olhos
tocam também o chão e o vento.
Que são as palavras quando me desabrigo
E a luz dos sons que as palavras gritam,
Quando me é escrita uma carta que me deixam
No ventre, fundida na cola das palavras.

E parto, partem comigo as cadeiras e as mesas
O suporte da cabeça e dos dedos
Parte contígua a moldura em cólera da dança das bocas
Da luta das cabeças, do peso do ferro
Do peso dos cabelos

Elevados os corpos, sem jeito tocamos os dedos
As mãos que coladas dançaram
Encostaram os rostos nas mãos, sem jeito
que um deus desajeitado uniu num quarto.

Que fosse esta a última visão
Antes que a boca cerrasse o medo
De abandonar a pele deste fruto conhecido
E de nos lançarmos à torrente da fome dos corações
Onde o sal come o ferro e os peixes o coração.
Parte II
(carta depois de nascer)
Vai, espeta o corpo num astro.
Astro de mão que lançado no céu corre um corpo de luz pela mão e as asas ficam leves.
Luz no teu corpo a fundir no céu a serenidade de um voo alado, de duas mãos livres.

Renasce no alto, despe a pele, nasce do alto, atira a morte na terra.
Bonitas asas. Fazem esquecer o vento da audácia. Fazem esquecer o que é pequeno, o que é humano.

Rebenta a nudez e chora. Grita esse dom de fazer a música apaixonar-se por ti, e do sofrimento da escuridão te devolver à cama.

30.1.07

transfusão.

Imagem por Cláudio.


O corpo é ávido, como tu. Ávido porque todos os dias saímos porta fora, e porque todos os dias há comboios que partem sabe-se lá para onde. Há corpos que descolam para lá. Partem com a sensação de perda e o ritmo parte também. E quando acordas numa manhã em que a temperatura estica os braços e as pernas para pólos distantes, ainda sentes mais essa partida.

E partes. Em partes não iguais.

Porque cá os tripulantes esforçam as línguas e o ordenado é mal pago. Mas não existe a trepidação dos carris, e todos ficam por cá. Porque não existe trepidação. Porque não se paga bilhete.

E o que estranhamente se repugna, uns instantes depois é sangue e pode ser transfundido. É vida. Estranhamente é vida. Porque existe pelo meio a exploração do desconhecido, porque o desconhecido muitas vezes nauseia, porque é estranho e torce o estômago.

Quando passo no jardim do Príncipe Real, pelo meio, vejo que está frio e que algures nas ruas está um sujeito que busca e está torcido, porque busca. E escuto um casal de namorados que se beijam com as línguas, e sorriem, e lutam esgrima com as línguas, e falam, mas não se percebe o que dizem. Esses não buscam. Têm o estômago limpinho e direitinho. Mas aquele riso pode vir do estômago. Estará torcido?

Desço e caminho, o frio vem da calçada molhada e aparentemente o que podia ter sido uma viagem de comboio, em boa verdade, não foi. Mas estranho tudo, e é agradável.

26.1.07

profilaxia.




Vejo a Lauryn Hill chorar em acústico ao cantar “piece of mine”. Música bonita. Faz lembrar uma criança, mas só a face, porque as lágrimas são provectas.

Uma mulher também chora quando rapa o cabelo?

Quando se rapa o cabelo, ou é por doença, ou porque se vai ficar doente. A Virgínia sabia que ia ficar doente, ainda mais doente, mas não rapou o cabelo, não teve tempo. Mas teve tempo de ir ao rio. Rapou a morte porque escolheu a vida.

Há quem pinte o cabelo e não seja tão marginal. Há quem pinte telas e o cabelo.
Eu só pinto letras, mas não tem a ver com profilaxia.

Cortar o que quer que seja é algo renovador como as queimas. Diz a história que um pai queimou o filho numa grande fogueira. Quis libertar-se do pecado. As lareiras também queimam memórias, e são eficazes na combustão cefálica.
Depois tudo fica cinza e a cinza pode ser partícula no ar, portanto entra no nariz e é pessoa.

Chorar, rapar o cabelo, queimar o desperdício que é, muitas vezes, não saber escolher a vida.

chapéu preto.



Alguém dizia que “ as coisas são assim mesmo, por enquanto somos fortes, mas podemos vir a ser magríssimos, com chapéu preto, e loucos. E uma enfermeira virá colocar-nos o lençol bem por cima do corpo.” Mas por enquanto somos fortes e temos 24 anos.

Mas eu sei, eu sei, por isso não tenho paciência para os que querem ser loucos, para isso basto eu, que sou louco.

São todos. De todos quase ninguém é louco. Todos juntos nunca o foram. É um cocó mas aprendemos a escrever-lhes sátiras. Música para o coração. Bombom para boca. Sexo sem ver a infelicidade da nudez.

Mas eu tenho paciência, tenho, tenho. Mas morre prematura. Depois começam a nascer as flores, aparecem borboletas e faz-se luz.

Porque há beleza nos candeeiros de rua, e um vestido de noite é sempre um vestido de noite. As pessoas são indumentárias de ocasião. Tudo é bonito num vestido de noite – e ser altruísta é tão mais mesquinho que a modéstia. Mas é bonito. E nós também achamos bonito. Mas não nos deitamos na cama a achar bonito. Fazemo-lo cépticos e descrentes porque sabemos que a essência do Homem não depende de dons intelectuais ou da riqueza, mas da tendência. E esta, não pode ser perturbada com estrume.

Tendência como o ruído dos corpos. Como um cão a fugir de outro para não ser esfacelado. Como o conforto interno de não ver as mesmas cores nos olhos e habitar um quarto com esfinges de animais de vidro que só os olhos grandes vêem.

Sim, porque sou um ser próprio de um mundo propriamente meu, singular. Tenho uma experiência propriamente minha - singular. Basta por isso fechar as portas à pluralidade e abrir ao inverso compatível.

É como beberes água, só que umas vezes podemos apanhá-la gelada, outras fervente. Evito com isto as gasosas de marca branca. Acontece encher o copo, levar uma vez à boca e deitar o resto fora. É necessário algo licoroso, forte, e pôr colónia nos poros.

- Kölnisch Wasser?

- Errado! Hoje é Bouquet Imperial by Roger & Gallet!

Boa noite!